Nas brincadeiras de outrora
Nas gargalhadas na rua
Com o olhar de toda hora
A brilhar na face tua.
Nos banhos de tanta chuva
Nas disputas do quintal
Nos desafios incessantes
Na água da boca, total.
Nos nossos abraços e beijos
Nas pedrinhas lá na calçada
Nas peraltices e traquinagens
Olhava-te, sempre, admirada.
Quão astuta cumplicidade
Que nos fazia correr desvairadas
Sorrir e chorar com murmúrios
De cair no chão, extasiadas.
Era um sonho todo dia
Vivendo na infância, as artes
E toda noite, muita alegria
Era o nosso baluarte.
Aborrecer-te era muito fácil
Sem um algo repentino
E seus olhos de forma ágil
Aguçavam o cristalino.
Então eu te falo de novo
Vivi e aprendi a te amar mais
Entender-te, aceitar-te
A cada dia bem sagaz.
Dentro de mim, em meu viver
Corro ainda aos teus braços
Sinto falta de você
E de todos os nossos laços.
Saudade de ti, “Nanana”
E de fugir da nossa coça
De ser feliz e mais nada
Ao voltarmos da nossa roça.
Do nosso “louro” ciumento
Que acuado muito ficava
E batia asas, feito o vento
Mas só comigo ele brincava.
E do elástico, das pedrinhas
Da bruxa solta, ai que horror!
Dos sofás de caixa de linhas
E do anel que andou, andou.
É assim, maninha, que te vejo
Linda, branca, especial
Insubstituível, eu te beijo
Amar-te é incondicional.
Mais que antes, hoje e amanhã
Amo-te e ainda ousaria
Eternizar-te em meu divã
Para contar-te, sempre um dia.
Num eterno mundano, talvez
Tornar-te só minha, então
E minha cúmplice, de uma vez
E guardar-te pura no coração.
Das rodas nas brincadeiras
E do ar livre do nosso teatro
Éramos o elenco principal,
Do nosso cajueiro consolador
Dos nossos versos e prosas
De nossa vida, imortal.