No eterno sonho de ser
Luxuoso, quero buscar
A realidade de ser
Simples e carente.
Quero meu canto
Limpo, nítido
E bem desinfetado.
Viajei ao mundo
Arquitetônico
E encontrei a estrutura
Ideal dos meus delírios.
Aspiro uma boa cama,
Com lençóis de seda
Bordados a mão de
Luva e de pena, feito pluma.
Um bom ar condicionado,
Frigobar, hidromassagem,
Vidraças importadas,
Piscinas com águas claras
Como o meu suspiro fantástico.
Não dispenso minha mordomia
Por nada que seja barato,
Igual a pessoas ranzinzas
E que não abrem mão de
Serem felizes no seu
Canto adormecido e frio.
Mas me encontro apenas
Com o teto de vento,
Pendurado em minha rede
Com o meu abano de palha,
Entre as folhas secas das
Plantas que morrem de sede.
Com nitidez, vejo as águas
Do mar bater em minhas pernas,
Molhando meus trapos de verão.
Afinal estou sob palmeiras,
Tomando água de coco e curtindo
Um belo cochilo desvairado.
Uma vontade louca de ir embora
E ninguém me encontra nessa ilha deserta.