"A miséria do meu ser,/ Do ser que tenho a viver, / Tornou-se uma coisa vista./Sou nesta vida um qualquer / Que roda fora da pista". (Fernando Pessoa)
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Sinta o vento brando sem raiz
Que te traz o aroma na madrugada,
É a mesma brisa que levará de volta
Teu cheiro da noite passada:
Aroma que perfumará outros ares.
(Perfumai-vos com os brancos lençóis.)
Sinta o vento forte que te atormenta
Na tarde chuvosa sem resposta,
É o mesmo tufão que levará de volta
Tua ressaca do dia guardada:
Odor que ameaça quebrar outros cristais.
(Alegrai-vos com o licor em taças transparentes.)
Sinta a mistura cortante do vento-ventania
Que nos embala com tempestade e brisa leve,
É o cheiro adocicado do sal das ondas
Com seus sargaços em revolta despejados:
Pés descalços em areias inconstantes!
(Embriagai-vos com o líquido da verdade.)