A paixão se mostrou inútil.
Ouçam, camaradas, os gritos não os assustam mais.
A mesa cheia de livros. Os corpos sujos. As caras todas pintadas
A árvore repleta de esperanças.
Mas no mundo há poucas árvores e muitos homens.
As esperanças se mostraram sonhos de uma vida impossível
Os postes não iluminam mais
As ruas não nos guiam os pés...
Aquele garoto de cabelo partido,
de coração partido, de espírito metade,
queria mudar o mundo,
mas o mundo mostrou-se muito e suas mãos tão poucas
também lhe foram inúteis
No fim das contas, o amor se mostrou inútil.
Hoje, somos todos razão
Vivemos o tempo da razão, essa roda louca a girar sem saber.
Tempo de sorrisos falsos e estáticos
De amores fúteis e frases binárias. Tempo de homens sós e multidão
- linhas de produção humana
Mas aquele garoto criava formigas e sonhava ser médico!
Gostava de TV e Monte Cristo e Beija-flor
Rabiscava papéis, mas os papéis se foram
Brincava na rua, mas a rua é trincheira
Rezava antes que o sonho chegasse, mas o sonho não veio
Decidiu não dormir nunca mais. Clamou por Deus,
mas Deus não chegou.
As ações. Os protestos foram tolo ensejo.
Não podemos com o mundo sozinhos,
E estamos sozinhos – eu e você
Cada qual com seu corpo vazio, neste bar
Vazio. A vida ainda é ilusão e bandeiras vermelhas
E as ilusões nos tornaram inúteis.
As bandeiras são apenas teatro.
Manoel Guedes de Almeida
Teresina – PI, quarta-feira, 17 de junho de 2009.