Falta.
Sinto falta dos teus beijos breves, do teu hálito de manhã
De teu vestido-musgo, de teu sorriso estranho
De teu olhar sem jeito sinto falta.
Sinto falta das promessas, das declarações de amor pra vida inteira
Das fugas, dos filmes à noitinha, das fotos,
das frases sinto falta. Tantos fatos...
não há mais fatos no mundo. O mundo é o agora
e o agora são faces e tempo e muito. Tudo é hipérbole
e não há mais espaço no mundo – o mundo é pequeno
Passaram-se os dias. Os amores também passaram.
Passaram-se os objetivos, a garra, o grito sem explicação, o fastio
[o rosto sem barba, as mãos sem rugas
A coragem, a esperança também passou... e sinto falta
Faço poemas, leio jornais.
Os homens inda protestam, cantam e se escondem
nas tavernas de copo na mão; levantam bandeiras,
cercas eletrificadas, armas...São todos metade, são todos semi.
A vida ainda é náusea.
Cá, falta inda sinto das tuas mãos nas minhas,
dos teus braços e abraços nos meus
[de teus lábios que inspiravam poemas diferentes deste - ferida.
do perfume nas cartas, da troca de alianças, das tímidas mãos que se enlaçavam.
da laranjeira no quintal; do vaso de flores vazio. Dos cactos.
Da tua face doce no sal da minha face...
da filosofia ao pé da “Lareira de Sonhos Impossíveis”...
Manoel Guedes de Almeida
Teresina-PI, terça-feira, 24 de março de 2009.