O menino só queria calçados
Estava cansado de pés descalços
A planta lisa de seu pé fino de menino
Áspera pelo despir indesejado
Ardia e sangrava pelo caminho ermo, inexato
Vergonhoso da penúria ultrajante
Hesitava em seguir desnudo, e adiante
a espreita de sua fina couraça
o aguardava uma selva de pedra cortante
De nada adianta fugir agora
E é penosa a esperança dos “louros”
que padece, desiste do sonho e vai embora
Mas a rudeza do solo que lhe assola a sola
a faz sangrar, mas consola, com a crosta que surge, grossa
e o que outrora lhe feria e sangrava já não mais apavora
Agora, é a teus pés que o solo implora. Piedade!
Ao seu pisar destemido, temente, o insolente espinho treme e chora
E da dor que sentia exposto a terra fria
Apenas a lembrança e o vazio do desejo inalcançado
.......O menino só queria calçados