Naquele dia,
Dormira plácido
E no rasgo da realidade
Apareceste.
Das minhas súplicas,
Que ansiavam sua chegada;
Dos rabiscos de memórias gris,
Que palpavam sua forma,
Dos papiros deíficos e runas sacras
Que me acastelavam a fé:
Tu, o nume das minhas intercessões,
Levantaste do meu covil
Do altar que sobrepujara meus pés firmes.
E, num milagre, tomaste forma…
Então, prostrado aos meus pés,
Consolaste-me,
Dos meus anseios
fizestes os teus,
Do meu pensar
criara o falar,
Da minha devoção
fizestes-me teu servo.
Naquela noite
Em deslizar de instantes,
O meu torpe querer encobriu
a luz ofuscante da tua fulva majestade.
Eu vi o eclipse profano…
Os meus anseios possuíram-me
E, como um porco impuro, tive fome de ti.
Desde ali, ansiava tragar teu tato,
Lambuzar-me da êxtase
por estar nas rédeas escatológicas do meu desejo.
Esgueirando-se, com tino, na sua sede por mim,
Dei a ti o meu fruto
e mastigara minhas nuances e grilhões,
Da avidez imaculada do teu zelo,
No credo pío em saciar-te.
No crepúsculo
O véu se rasgou,
ruíra a superfície do Teu sagrado
e intoxicara-te do meu profano,
não era mais terreno aquele lugar;
no paraíso, celebravam meus demônios em júbilo por possuir-te,
pois és alguém como o Pai,
és o arcanjo que me visitara
és milagre manifestado,
és alguém como pai.
Mas tu, o Grande Príncipe,
alguém como o Pai,
mantera a minha proteção,
retiveste meu corpo mundano
no refúgio de Tua espada.
Tu me tiveste protegido,
mas eras tu que estavas domado
nas correias do meu anelo.
Era de gozo profundo
tê-lo em minhas mãos, em mim;
consumindo Teu resplendor
dando-te aos vermes da minha carne,
saciando minhas legiões que rejubilavam em cânticos.
E aos bocados estava a devorar Teu nome
Tua Graça.
Na aurora,
Contudo,
Voltara a resplandecer Sol;
E no rasgo da minha quimera,
Cortaste-me com tua espada;
Da flama que surgira,
Expulsaste meus demônios e
Proscrito ficara do paraíso.
Da Tua falta irradiava
A febre da realidade,
Ardia a inquietude de vê-lo partir.
A Lua escarlate velou-se
Sob Tua Glória;
O firmamento pendia entre a penumbra de outrora
E o radiante lampejo da tua densa ausência.
E agora eu venho suplicar-te
Ora, rogo a Ti,
Para que venhas a mim,
Despido do teu broquel,
De mãos puras,
Apoiando teu dorso em meu colo…
Sustenta-me!
Imploda meu ser!
Inflama minh'alma!
Proteja-me das incertezas,
Guia-me pela cruzada de nossos corpos,
Na sombra dos nossos toques,
Assim posso afogar-me no vale de nossas lascívias,
Pois Contigo, meu Rei e Senhor,
Não temo a dor do profano,
Porque tua santa vara e teu cajado me consolam.