Poesia

Absinto

Absinto
I
Para entender os antigos poetas ingleses,
Fui para Stockwell
E sentei-me
no The Cavendish Arms
Beber cerveja e absinto
Pedi um pint de stout
e duas taças de absinto,
lá fora, chovia na calçada.
Na primeira dose, nada demais
Na segunda, entendi Wilde
Que enxergava como as coisas não são,
Após a terceira, o céu e a terra se fundiram
Ao passo caminhava sobre névoas sutis,
Na demais doses,
Pude ouvir os bardos que me arrebatavam.

II
No dia seguinte,
Bem, no dia seguinte despertei
Sob o olhar reprovador de Deus
No espelho do banheiro,
E vi também que Ele repovoara a Terra:
Sob os lençóis havia uma poetisa nua,
No chão, enrolada entre almofadas, outra.
Voltei às cobertas e dormi o dia inteiro,
Tentando renunciar à luz
e recuperar minha escuridão.
III
No terceiro dia, abandonei-as perecidas
No quarto do Hotel Dover, abri os olhos.
Encontrando minha carteira, entendi
Os velhos poetas do século dezenove:
O absinto te faz ver o mundo
Como você gostaria que ele não consistisse,
Fosse como fosse, um lugar apavorante.

Celso Gomes da Silva Celso Gomes da Silva Autor
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