Ab-rogar
I
É a noite que me olha,
o lusco-fusco em seu estribilho,
em seu silêncio nauseativo,
enquanto uma chuva miúda e fria
molha os contornos
que não ab-rogo no escuro,
carece luz, falta entendimento das formas
e vou tartamudeando,
passos incertos sobre o asfalto molhado
e o frio me embaralha os caminhares
e eu sinto que retenho a consciência
de um olhar que não se revela
e me torno apenas um objeto
desse outro que não embate.
Então, é a noite que me olha
através da iluminação aérea,
das nuvens de chuva,
dos pingos frios
e dos corpos enrodilhados sob as marquises.
II
Estou só em Roma
e me sinto objeto de um olhar
que não se manifesta,
mas quando se revela,
vejo que não existe,
que não havia nenhuma testemunha invisível do meu caminhar,
era somente eu mesmo no escuro,
a meio caminho do Coliseu.