Poesia

Girar nos calcanhares

Girar nos calcanhares

Como o cavalo que embala a marcha ao retorno
voluntariamente, intuitivamente, impulsivamente
Serão os cheiros, serão os ventos, será a saudade?
a sensação da volta, a percepção da volta o embala

Sem porquê, o que terá lá
A grama pisada, o tronco,
a companhia velha, o cocho gasto de lambido?

Assim eu…
vem-me de novo em quando em vez
a memória besta do morro talhado pelo asfalto
visão sem charme e sem porque, saudosa.

A sensação mais úmida e pouco mais fria.
O pavimento mais rude, a menos edificações.
O falar mais sem assunto, o falar cantado.
que há de superior nisso? que há de desejável?

Essa tristeza, esse receio de findar aqui
o que começou lá
será ilógico, será errado?
é por isso que os elefantes voltam?

O que reclama este retorno?
Serão os espíritos Xucuru-Kariri?
Serão os pomares, os galinheiros, os rios?
Será o estômago? O cérebro não é.

O cérebro não é, perdeu toda fé
decepcionado professa agnose
agnose voluntária da razão
agnose máscula de emoção

João L V João L V Autor
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