Emerson Araújo
Não quero compreender a tarde
Porque ela não tem leituras a olho nu
Nem por dentro, labirintos e dédalos
A mexer em sentimentos postos
A tarde é a lágrima contida em cálice
Ninho de mariposas sob flores
Folhas caídas.
Mas quero da tarde apenas o sopro
Na pluma de seda que está sobre a calçada
Nos passos inomináveis da figura escarlate
Espada e vinho velho em taça de vidro verde
E o sol que transita na parede da cal
No olho assombrado da vizinha solitária
A mexer com a parte escondida que ainda me cabe.
A tarde sem nomeações
Os secretos rumorejos a sair pela janela
Nada de luas aos pedaços e transparentes
Apenas a folha de papel que me refaço
Entre labirintos e dédalos
Espadas e escudos e siglas beijando as nuvens
Neste dia, digo fim de dia
A vasculhar minhas cinzas.