enquanto descansa a felicidade
batem as asas aceleradas no peito
e, olhando para mim, a verdade
motiva as águas que caem no leito
sonho perdido por entre esquinas
não me trazem a beleza da cidade
quando acordo, no meio das neblinas
então choro, pela frieza da verdade
somente a terra esconde o fruto
que a água do meu pranto alimenta
desde que desconheço meu futuro
sou assim: minha ideia me inventa
enquanto descansa a liberdade
dou uma completa volta pela rotina
pro pranto, nos reclames da saudade
meu choro tira a maquiagem da retina
tudo que vejo, se não sonho
não passa de chão sem chuva
meu suor é assim tristonho
cansado pelo pé descalço na rua
na mesma rua onde eu andei
andou também minha coragem
pena que quando dela precisei
ela se foi... e não voltou de viagem
meu corpo se apavora com o dia
que o sol me traz de presente
se o mundo fosse novo: eu saberia
sorrir pra vida sem o sorriso que mente
tantas vezes critiquei o vizinho da rua
por me dar um sorriso, que julguei maquiado
sem ver no espelho minha consciência nua
para um rosto sorrir é preciso ter chorado
tanta força tem a hipocrisia na vida
que meu sorriso, sem cáries nos olhos
pede a alegria, recebe em contrapartida
somente a utopia dos meus reais sonhos