Era uma negra roliça
De olhos resignados
Cinqüenta e pouco de idade
Quinhentos de opressão
Espremendo o polegar
Em vez de assinar o nome
Num cartório de protesto
E nada!Ninguém protestou
O cartório de protesto
Protesta os maus pagadores
Os velhacos, os predadores
Da saúde financeira
Pra que não haja calote
Na praça onde os homens compram
Nas lojas onde os homens vendem
Honrando o contrato humano
Calote maior não há
Que o calote aplicado
À negra mulher roliça
De olhos resignados
Pra esconder a vergonha
Que ardia em sua alma
Roubaram-lhe a assinatura
A escrita, a leitura
E não lhe pedem perdão
Nem pagam indenização
Por tudo o que já passou
E pelo o que tem de passar
No cartório de protesto
O peso da civilização
Sobre a sua ignorância
A assinatura é a marca
Que se deixa num papel
Traduzindo a nossa cara
Mostrando quem é que somos
É a nossa pegada escrita
Inventada pelo homem
Desde o princípio da história
História que foi roubada
De quem não assina o nome
O polegar assinado
No cartório de protesto
Foi mais uma cena banal
Só meu coração protestou
E faz aqui o registro
Sem firma reconhecida
Mas batendo no compasso
Do coração oprimido
Da dona do polegar