Há tanto tenho esperado e esperado tanto.
Espero mensagens de quem já deletou meu número.
Espero cartas de quem nem ao menos sabe o meu endereço.
Espero ligações de quem cobriu a própria voz de silêncio, mas, que se ligasse, cairia no mudo do celular e, por azar, não atenderia.
Espero respostas de quem não fiz sequer uma pergunta, muito embora tivesse tanto a questionar.
Espero visitas de quem escolheu habitar a ausência.
Espero encontros de quem optou por seguir um outro caminho.
Espero despedidas de quem, na verdade, nunca veio.
Espero verdades de quem não consegue acreditar no vazio das próprias palavras.
Espero o cumprimento de falsas promessas, nas quais não reconheço esperança, mas que me fariam mover o mundo pra me provar o contrário.
Espero diálogos, começos, meios e fins.
Espero, sobretudo, do tempo, sobreposto à memória, mas ainda preso a mim.
Também espero muito de ti, cavando fundo desenganos sob a liquidez de um sentimento raso.
Espero e cobro do destino, da sorte, do acaso.
Espero e ando atrás de vida, que, depois de tanta espera, ficou em atraso;
vagando pelos becos sem saída, avenidas e calçadas
– de tudo que não foi, daquilo que o passado demoliu entre as estradas.
De onde mora o presente, a liberdade e o apuro.
Mas nunca qualquer indício de futuro.
(Ias Rodriguez, 2020)