Todo dia eu esperava meu amor passar. Era um encantamento só. Já sabia e por isso,  fazia as tarefas do lar sem me apressar. Era certo!
Quando ele passava, minha janela brilhava umas luzinhas verdes. Parecia uma família de vagalumes. O luar desse meu sertão tão incerto, ficava mais claro. O canto da cigarra era mais forte e preciso.
Mas depois de se acostumar com todo esse ritual, meu coração não batia tanto mais.
Foi culpa da mesmice!
Eu não ouvia mais a cigarra cantar. 
O meu amor deixou de ser minha injeção de forte emoção.
E me perdi no tempo que não parava de passar… 
Outro dia reparei ele vindo lá longe e sem ansiedade alguma consegui esperar ele se aproximar. Me olhou com um olhar alegre. E recebeu  o meu, distraído.
 Nesse mesmo dia encerrou a passagem pela minha janela, com a cabeça mais baixa. E passou alguns dias sumido.
Já não esperei mais que ele passasse, outra vez. Nem à janela ia mais.
Ontem acordei com aquela saudade.Lembrei do meu olhar distraído da última vez.
Naquela hora certinha de todo dia, fui esperar… Minha janela pisacando vagalumes de ansiedade e emoção.
A saudade apertava meu peito enquanto esperei, esperei e esperei…
Bem mais tarde, que o de costume, ele passou e me olhou com olhar confuso.
Hoje, fiz tudo bem mais rápido, e fiquei pronta mais cedo.
Esperei, esperei…
 Mas, meu amor hoje não passou…