E se quiser ir, vá.
Eu também já fui.
Já fui há muito tempo.
E, sim, faz tempo que todas as coisas mudaram,
que as estações se indefiniram,
que os ventos passaram a errar a direção.
As circunstâncias desgastaram-se e aqui já não é o mesmo lugar.
As horas não correm como antes.
Os segundos tornaram-se fatigantes.
As presenças, inconstantes.
E eu já não sou a mesma.
Não adianta voltar.
Não adianta buscar outras mil razões pra se machucar.
Não adianta procurar um novo começo desde que já se conheça o final.
Não adianta se moldar, sendo que os espaços já não suportam tantas extravagâncias.
Não adiantar tentar.
E já não adianta há muito tempo.
Não adianta correr infinitamente pra alcançar algo que já não é um desejo meu.
Não adianta depositar tantas energias por algo que já não tem a mínima lógica ou menor sentido. E por algo que, simplesmente, virou uma obrigação desmotivante, que corrói meu interior e os expoentes do meu ser.
Não, não vale a pena gritar comigo mesma; ainda que só a minha voz – muda – seja capaz de estrondar o silêncio do meu coração.
(Ias Rodriguez, 2019)