"A viagem mais desorientadora é aquela dentro de nós mesmos."
Quão distantes podem estar
Alegrias, tristezas e fúrias?
E em qual porção da consciência é possível escutar
Suspiros, verdades e injúrias?
Memória sorrateira
Do nada me força a viajar
Finas camadas de poeira
Estão na distância a repousar
O tempo é curioso, pois cura, fere
E me afasta de mim
Mas também estranhamente sugere
Que não é bem assim
Levou partes do que eu era
Despertou tendências adormecidas
Processo este que quisera
Desde as primeiras lágrimas perdidas
Moldado, flexível
Sou como argila
Sofrendo toda metamorfose possível
Enquanto os anos fazem fila
Números que só vão
Léguas que só ficam
Fragmentos de recordação
Enraízam e solidificam
Das virtudes a paciência
Sempre foi uma fiel amante
Não seria mera coincidência
Que nunca é tão distante?
Encontro atalhos e os atravesso
Em todo rio há uma ponte
Querendo ou não eu impeço
Um deserto sem horizonte
Outubro/2017