Nestes últimos 26 anos fui um grande colecionador. Colecionei tantas porções de amor que ainda guardo um montão em uma gaveta para momentos de precisão.
Colecionei risadas. Risadas tão gostosas que pelo resto de minha vida vou escancarar em minha face o arreganhamento dos bons momentos.
Fiz uma enorme coleção de bom dia, boa tarde, boa noite, como você está e te cuida. Foram tantos que meu estoque talvez nunca acabe.
Reuni também vários exemplares de dor, mágua semblante sisudo. Mas não chegou a formar uma coleção. Estes vou deixar num cantinho para não me iludir que todos os dias foram de flores. E, por falar nelas, vou te contar. Fiz uma bela coleção. Flores vermelhas, brancas e amarelas. Flores em vasos, em bouquet e daquelas de plantar direto na terra. Você nem imagina a enorme coleção de flores que cultivei. Cada uma representando um dia de amor.
Colecionei abraços e suspiros suados de filhos ao acordar, levantar ou na hora de deitar. Abracos de mãos sujas de terra e areia de um dia qualquer de folia gostosa.
Dentes quebrados, joelho ralado e unha preta de bater em um canto qualquer. Renderam uma prateleira cheia destes momentos mistos de dor e brincadeira de criança. Uma coleção de subir e descer de montanha russa que sinto até agora aquele friozinho na barriga que somente se asselhemelham ao momento da revelação de um coraçãozinho que começava a bater e à aflição solitária de sentir o segundo coraçãozinho batendo.
No meu coração, construí um sem fim de prateleiras a guardar pequenas e grandes emoções. Lágrimas de tristeza, de alegria a lavar meu corpo e minha alma. No centro, bem acima desse mar de sentimentos guardei dois lugares. Um é pra mim. O outro é para aquela que proporcionou tudo isso. Para esquecer 26 anos precisarão 26 séculos. Fique bem meu bem. Pra sempre lembrarei das tuas duas lindas esmeraldas a brilhar ofuscando as minhas vistas e do teu cheiro inconfundível de mulher. Fique bem meu bem. Eu também ficarei.
