Subindo o morro sente o vento. Seu fim de dia está alegre apesar da barriga vazia. Mora com a mãe num casebre pobre e sem muita alimentação. Por vezes ouve os amigos falarem de outros pastos verdes; mas não se entristece, o pouco que têm conforta-o e à mãe. Inspira-se nos sons de seus passos lentos, porém certos de aonde vão. É quase Natal; Jesus está no meio dos homens!... Enche-se de emoção da lembrança de um azurrar emocionado (No Natal passado ganhara uma braçada de capim fresco. Vira nos olhinhos da mãe uma lágrima de felicidade que era dele; e como deveria ser, comeram juntos do Presente do Céu!)
Deixara um bilhete em cima da cama de palhas antes de sair. Soubera que estavam selecionando jumentos para as comemorações do Natal que seria naquela noite e não tivera tempo de falar com sua mãe. Imaginou-se ao lado do presépio na praça central da cidade olhando o Menino Jesus na manjedoura; as crianças em redor com os rostos bem-aventurados.
_Havia o presente do “Bom Velhinho” para os puros de espírito e seu pedido fora para sua mãe!
O coração desce morro abaixo: Zump zump zump. Ouve um bimbalhar no ar como se fossem já os sinos de Belém e anima-se. Com isso, sobe e desce o morro sem dificuldades.
Lá está a igrejinha com suas portas abertas a dezembro! Era já fim de tarde e o sol corria os últimos dedos no céu do dia. A mata circundando o restante do caminho íngreme não o assusta. Antes, acelera mais os passos erguendo os olhos: A noite está se decorando de luzes da cidade!
Entusiasmado, com as árvores citadinas enfeitadas de motivos natalinos, coloca a pata direita na frente e segue. Dentro do peito uma estrela flameja pequenina.
_Noel descerá pela chaminé de seu casebre com uma braçada de capim fresco e o deixará ao lado da cama de Dona Burrica, sua mãe, com um cartãozinho escrito com as mesmas patas pequeninas que agora pisavam o chão da pracinha.
“Mãe,
Este ano quem te presenteia com um Natal especial, sou eu. Pois fui presenteado ao te ganhar de Jesus!
P.S. Abraço-te, depois da meia-noite!
De teu filho,
Burrico.”
(Os mais Belos Textos de Natal. Ed. 2009, pág. 20-1.)