Vou escrever
sobre uma parede azul
então não percam seu tempo
se não queres saber
dessa parede
Pego um pequeno banco de madeira
e me sento em frente a tal parede
ela é azul e sem janelas
completamente azul
não lhe foge nem aos rodapés
e a tinta viva marca meus dedos
ao tocá-la
Esta parede azul de cheiro forte
guarda por trás dessa nova camada de cor
uma aspereza do cimento
a qual seus tijolos foram cobertos
a muito pouco tempo
e levantando-me a cabeça
vejo que esta parede é grande
poderia facilmente caber
uma grande pintura desta família
que seria intocável por várias gerações
ou um relógio que a passardes por perto
ouviria mesmo que bem baixo
um pequeno tic tac
tic tac
tic tac
tic...
até que as pilhas desse relógio acabassem
Nesta parede azul
poderia grafitar facilmente o céu
de Van Gogh e fazê-lo desistir
depois de morto do suicídio
ou mesmo uma obra abstrata
que não teria sentido nenhum para mim
mas fariam minhas crianças
saberem o que é LSD
Nesta fina camada de cor
escolhida sutilmente pela calma
sento-me em frente a ela
sem saber o por que
e nem quando terei de pintá-la
novamente, mas estou em frente
a esta parede erguida
para sustentar o teto
e fechar o comodo
termino de vê-la secar
sem nenhum aparente
proposito
Permito que o som faça eco
por toda casa, enquanto vislumbro
a parede azul
desvio dessa loucura de fato
levanto-me da cadeira
e esqueço que estive ali
agora as memórias criadas
naquele azul, não existem mais
e a parede azul antes levantada
com tanto esmero, não existe mais
agora o relógio lhe falta existir
agora o grafite lhe falta existir
agora as gerações lhe faltam existir
agora a pintura lhe falta existir
agora Van Gogh lhe falta existir
agora o tempo se fez de novo
e a parede azul, torna-se novamente
parede