Poesia

O amor, seus encontros e desencontros...

Ele pode te aparecer na fila do supermercado, ou caminhando na rua, pode ser também numa praça, numa festa, num avião, biblioteca, numa praia e, por que não, num ônibus? Sim! A vida pode ser tão imprevisível quanto o desencarne, se é que me entende...
Ele (o amor) vem de forma totalmente inesperada, às vezes em um momento em que te encontras ainda com resquícios de experiências passadas, um pouco defensivo; talvez passando por algum momento difícil, ou então em algum momento de redescoberta, em que percebes que a vida pode ser muito boa e compreendes que cada capítulo dela é importante, seja ele de tristeza ou de comédia; cada capítulo contribui para a tua reflexão e evolução, molda-te e é um processo contínuo. Todo dia é um capítulo novo, todo dia é um novo aprendizado. Neste momento, estás aí, realizando feitos, idealizando vários outros, estudando, trabalhando, aprendendo, priorizando algumas coisas, adiando outras, até que... Num dia desses, aparentemente normal, tu conheces alguém e imediatamente é inundado por uma sensação de que esse não é o primeiro encontro, como se fossem conhecidos de longa data. Esse alguém então te desperta e mostra que adiar demais, fugir de experiências novas pode ser privar-se de viver, mas viver mesmo: arriscar-se, permitir-se e paralelamente ter total segurança... Então, agora contarei-te a minha história.
Macapá, ônibus Fortaleza, 4 de agosto de 2016...
Lá estava eu, na av. FAB, como quase todos os dias. Era noite de quinta-feira, havia acabado de sair do centro espírita e caminhava rumo à parada da praça da bandeira; chegando lá, sentei-me e comecei a aguardar um ônibus, dentre as minhas três possibilidades, eu poderia ter entrado em qualquer um que passasse primeiro... Mas não. Em um determinado momento, um pouco entediada pela espera, levantei-me e fiquei de pé, olhando para a rua, não esperava nenhum grande acontecimento naquele dia, estava louca para chegar em casa, estava cansada.
Desviei o olhar da rua e fiquei a observar um rapaz alto, andando na praça, com a mochila em um dos ombros, procurando algo dentro dela, vindo em direção à parada. Fiquei distraída observando-o, mas quando olho para a rua novamente, percebo que vem um ônibus, um que servia para mim. Estava perfeito, praticamente vazio, decidi que iria nele e, para a minha surpresa, o rapaz alto também. Ele entrou primeiro, olhou para mim perto da roleta e parou. Gesticulei com o braço, insinuando que ele poderia passar, mas ele insistiu que eu passasse antes dele, pois entendi que ele ainda estava procurando algo na mochila. Assenti, passei pela roleta e me acomodei em um assento ao lado da janela, sobrando outro ao meu lado.
No ônibus havia diversos assentos vazios, o rapaz poderia ter escolhido qualquer outro lugar onde sentar. Onde ele sentou? Ao meu lado. Eu estava olhando pela janela, mexendo em algum objeto que não lembro (não era celular), quando noto que alguém sentou perto de mim. Não ousei virar para ver quem era. Continuei olhando pela janela, até o momento em que ele decidiu tirar dúvidas comigo, sobre o passe estudantil e imediatamente percebi o sotaque nordestino, encantador.
Iniciou-se então uma conversa que durou aproximadamente 30 minutos, resumiu-se em vestibular, faculdade, estágio etc. A famosa adultice que nos alcançara. Convenhamos, não é todo dia que saímos falando da nossa vida com desconhecidos num ônibus, né?! Neste dia foi diferente, me senti completamente confortável em conversar com ele, até mesmo sobre meus anseios. Eu senti como se já o conhecesse de outro lugar, como um espírito amigo, por conta da confiança de compartilhar alguns conflitos internos. Falei até o quanto sou ruim com cálculos e que tive muita dificuldade nos últimos anos de colégio (que pessoal). Ele me ouvia atentamente, até avisar-me que já iria descer na próxima parada, antes de levantar, pegou em minha mão, sorriu e disse seu nome, eu disse o meu, sorri e ele se foi...
Fiquei olhando para baixo, não olhei para a janela. Quando o ônibus deu partida, senti vontade de sorrir novamente e o fiz, peguei meu celular, meus fones e voltei minha atenção para a janela, me sentindo bem por ter conhecido aquele rapaz e refletindo o que tinha acabado de acontecer, que tudo bem não vê-lo novamente, se assim fosse a vontade de Deus. Segui com a vida e como havia sido algo incomum, comentei com amigos próximos e um deles o conhecia e imediatamente o contatou... Ali começava uma tentativa incessante de tentar nos aproximar, e eu lá, relutante, negando minhas sensações.
Meu amigo e o rapaz do ônibus conversavam de vez em quando, tempos depois ele mandou mensagem para esse amigo, dizendo que fazia tempo que não me via. Depois de meses, nós finalmente trocamos contato e conversávamos rapidamente sobre algum assunto relacionado ao vestibular, nenhuma novidade. Meus amigos insistiam para eu mandar mensagem, me incentivavam. Sentia-me receosa, às vezes até mandava, mas não fluía. Então, nos afastamos por um tempo e, quando retomamos, novamente falávamos da tensão de prestar vestibular (ele iria), mas eu também iria fazer o exame, sem compromisso. O ENEM proporcionou muitas conversas e troca de experiências antes e depois da prova, mas somente isso.
É, caro leitor, quantas idas e vindas, não é? Depois do exame trocamos poucas mensagens, em intervalos distantes, veio o natal, eu estava viajando e, até que enfim expandimos os conteúdos de nossas conversas: filmes, nossa personalidade, concepções; veio o réveillon, eu já estava aqui, novamente conversamos, ele me mandou uma mensagem bem legal falando do meu jeito e que ele me desejava muitas coisas boas, que o novo ano que se aproximava fosse bom etc., fiquei feliz, respondi à altura. Pela primeira vez parecia que estava fluindo... só parecia.
Eu iria comemorar a passagem em uma festa com amigos e ele com a família, ficamos conversando até pouco depois da meia noite e nos despedimos, entrei para a festa, dancei tanto até não sentir mais os dedos dos pés e depois peguei um táxi e voltei para casa. Conversamos no outro dia, e depois e depois, até que nos afastamos de vez, num período muito maior que qualquer outro. Eu já estava gostando dele, pensava toda hora e os meus amigos não ajudavam... Viviam falando. Tu tentas superar e os amigos não deixam. (Atenção, amigos, se não deu certo, não fiquem falando do(a) paquera do(a) seu/sua amigo(a), isso não melhora as coisas, só prolonga algo que talvez esteja sendo completamente prejudicial).
O tempo foi passando, morávamos no mesmo rumo, às vezes o via no ônibus, quando eu saía do estágio, fingia que lia um livro, fingia que dormia, mas em todas as vezes estava muito lotado e ele não me via, eu não me atrevia a falar, sentia que era melhor esquecer aquela história e priorizar meus trabalhos etc., foi o que fiz. Nesse meio tempo conheci pessoas interessantes também, tentei conhecê-las melhor, mas acontecia algo... O rapaz do ônibus parecia ter invadido a minha cabeça e se instalado nela, eu tentava esquecer, mas cada coisinha ao meu redor lembrava-me dele. Comecei a ficar confusa e como boa fã da série How i met your mother eu não podia deixar de fazer uma analogia ao Ted e Robin, não é? Bom, ele gostava dela, mas se afastaram. Ele, de todas as formas tentou esquecê-la e, as coisas até davam certo por um tempo, no seu tempo, depois deslanchavam, ele se via novamente diante dela (Robin), dando-se conta de que ela sempre esteve presente nos seus pensamentos desde o dia em que se conheceram. Era assim comigo, eu sempre voltava à estaca zero. Parece bobagem, afinal, eu estaria mesmo gostando de alguém que conversei olhando nos olhos apenas uma vez? E mais, nem se dava conta do que estava acontecendo. E toda a minha concepção sobre tempo? Que não seria real um sentimento por alguém que havia acabado de conhecer... Eu estava confusa e percebi que precisava ficar sozinha para refletir e dar um basta nisso, se assim precisasse. Recorri a quem? Deus, claro! O sábio dos sábios, quem sempre me direcionou. Pedi com todo o meu coração que ele me desse discernimento para lidar com a situação, que, se não fosse da vontade dele, que ele me ajudasse a tocar a vida, focando em outras possibilidades.
Era muito frustrante, era conflituoso, eu tinha a sensação de que não seríamos estranhos, que seríamos próximos, entretanto, seria demais saber em qual circunstância. Eu sabia também que ele estava passando por momentos decisivos, difíceis, de escolha profissional, eu compreendia isso, mas desisti. É, a vida novamente seguia, eu ia por um caminho, ele por outro. Eu passava às 14h, ele passava às 14h10, inseridos em desencontros. Eu sabia disso porque os meus amigos o encontravam por aí, mas eu não, eles me contavam, eles acreditavam mais do que eu, eles estavam certos.
Macapá, 24 de março de 2017...
Lá estava eu, assistindo Animais Fantásticos, tomando sorvete e comendo pão de queijo, comemorando antecipadamente o aniversário de minha amiga, que viajaria em breve. Eu estava deitada, celular ao lado, até que vibra. Quem era? Ele, o rapaz do ônibus. Ele parecia estar bem, bem mais humorado, a conversa fluía, era muito assunto acumulado, novidades de ambas as partes; conversamos naquele dia, no outro, no outro. Até que marcamos de sair, desde então ele começou a me ligar, a ouvir por ligação o caos (bom) que é minha família (risos). O Sentimento estava de volta, mais forte, eu estava ansiosa, animada, mas diferente, não me enchi de expectativas, não me imaginei escolhendo o vestido de noiva, as flores do buquê, não pensei em nada disso. Comecei a pensar na prece que havia feito, pedindo discernimento e sinais para Deus; pensei também nas minhas sensações de já sermos conhecidos de outras vidas e que talvez fôssemos ser bons amigos, tudo bem por isso, eu só queria ter aquela pessoa por perto.
Enfim, chegou o dia, era um sábado, optamos por cinema, ideia de um amigo nosso, que também foi. Fui a primeira a chegar, depois ele chegou, mas primeiro foi resolver uma questão, antes de nos encontrarmos; depois o nosso amigo chegou e sentou-se comigo, perguntando se eu estava nervosa (já chegou assim, de zoeira). O horário do filme se aproximava e decidimos ir até ele, para ver se estava terminando de resolver...
Nossa! Naquele momento, no caminho, comecei a pensar no tempo em que ficamos sem nos ver, sem conversar, cheguei a pensar lá atrás que não nos encontraríamos mais; olhei de longe, senti uma sensação estranha no estômago, precisei sentar, mexer nas folhas artificiais de uma planta num vaso ao lado de um banco. Meu amigo ficou de pé, de frente para o que vinha e eu estava de costas, quando ele avisou que ele estava vindo, senti alívio e felicidade, nervosismo também. Foi o reencontro das almas. Abraçamo-nos forte, nos cumprimentamos e começamos a conversar no caminho do cinema, nós nos olhávamos bastante.
Na hora de assistir o filme sentei-me ao seu lado e começamos a conversar! Comentamos praticamente o filme todo, concordamos em muitas coisas, os dois analisando um comportamento de uma pessoa com múltiplas personalidades... Que romântico, não? Eu também acho, foi bom. Quase no fim do filme, ele pegou minha mão e, eu, lerda, perguntei se ele estava observando que meu braço é muito fino, ele simplesmente me ignorou, aproximou-se de mim, pegou em meu rosto e nos beijamos. Foi uma sensação incrível, o toque dos lábios, a sintonia. Depois disso, não nos soltamos mais. Um mês e um dia depois, (nós já havíamos saído inúmeras vezes) ele me pediu em namoro e eu, sem acreditar, extremamente feliz e decidida do que queria, aceitei. Aceitei me permitir e foi a melhor escolha.
No dia 4 de agosto de 2017 fez um ano em que aquele rapaz do sorriso encantador sentou-se ao meu lado e puxou conversa comigo, ele até hoje diz que a dúvida sobre o passe estudantil era real, mas que ele também tinha achado que eu era alguém legal, e decidiu falar comigo.
Devo dizer que não sou a única pessoa da história que contou para os amigos sobre esse encontro inusitado, ele também o fez. Hoje, vivemos um relacionamento saudável, entre pessoas trabalhando sua maturidade diariamente, trabalhando sua paciência, reconhecendo seus defeitos e ajudando um ao outro. Somos parceiros, bons amigos e namorados; pessoas que se irritam, que entendem que relacionamento não se resume somente em flores e bombons. Nós melhoramos um com o outro a cada dia, nos ajudamos, somos sinceros e estamos aprendendo a ceder... Sim, ceder! Algo fundamental num relacionamento, principalmente quando queremos progredir juntos, queremos que realmente continue dando certo. Além do mais, nós já conseguimos desconstruir muitas coisas, muitas concepções sobre amor, sobre tempo, que ele nem sempre é determinante. Conversamos sobre tudo, confiamos, nos respeitamos e respeitamos o espaço de cada um, entendemos também que o orgulho não agrega quando se quer resolver um problema pendente e que esperar muito nem sempre é a escolha mais sábia... Todos os dias nos aproximamos mais e eu me apaixono por cada detalhe dele, completamente grata por esse reencontro aqui, por essa oportunidade.
Eu iniciei esse texto há alguns dias e finalizei-o hoje, 17 de agosto de 2017, depois de uma mensagem de uma amiga, dizendo que a nossa história é uma inspiração para ela, pois havia acontecido algo parecido e por conseguinte, nós desejamos que esta seja também inspiração para mais pessoas e nós gostaríamos muito de ler/ouvir.
Então, por favor, caro (a) leitor (a), jamais deixe de acreditar, insista mesmo até quando puder, em todos os sentidos da vida. Espero mesmo que essa história seja relevante e que te desperte a esperança de dias melhores, de boas pessoas ao seu lado, ela vem com o intuito de encorajá-lo (a), de mostrá-lo (a) que há tanto a ser vivido, compartilhado, descoberto...

Brenda G Lazareth Brenda G Lazareth Autor
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