Ontem, em plena aurora, corri por o quarteirão que se desprendia daquela rua estreita.
Ontem me sujei de terra e me colhi de vida.
Ontem eu salguei o pranto de minhas carícias e cri em meus desatinos.
Ontem eu sabia de tudo em tão poucas palavras e tantas ações lisonjeadas.
Ontem eu caí.
Mas ontem eu levantei.
Ontem eu me encorajei como ninguém havia me descrido e perpetuei o meu fracasso de hoje.
Ontem eu escrevi milhares de lições e esqueci de aplicá-las agora.
Ontem eu gritei alto.
Eu sorri escancarado.
Eu chorei disfarçado.
Eu cantei o legado de ser quem eu sou.
Ontem eu acreditei nos contos e temi mentir como agora.
Ontem eu ri sem motivos.
Ontem eu fui sincera a ponto de perpetuar mágoas; e eu senti falta disso quando me recuei, com racionalidade, pra não impôr meus traços.
Ontem eu fui feliz.
Só que as horas tiveram a petulância de trocar meu riso por o sino do anoitecer e trouxe tamanha escuridão aos meus sonhos.
Ah, que saudade de me achar e me perder em fração de sorrisos e lágrimas de sentimentos não identificamos, mas tão claros pra minha emoção.
Ontem foi alegria.
Hoje é tristeza.
Amanhã eu já não sei.
Depois de manhã também é incerteza.
Há quem entenda o sentido da vida, se houvesse uma mesma direção pra seguir nos rastros da cumplicidade. Mas amanhã descobrirei que eu mesma vou ter que criar meu próprio conto imperfeito e decidir entender que as alegrias estão nas estraladas, e o final é só um término desiludido.
E pensar que a lacuna perfeita que tanto busco é as organizações sem sentido racional que encontrei até aqui!
(Ias Rodriguez, 2017)