BITOLA ESTREITA
Já faz tempo que partiu
O último comboio
De esperanças
E ao longe
Apitou na curva
Dos anos
Uma derradeira
Saudade.
Esvanece na memória
Espirais de lembranças
Antigas
Crescem nos trilhos
Desolados da vida
Os primeiros ramos
Da sempre-viva.
Houve um tempo
De cores e risos
Movimento intenso
Calor e ruído
De eterna festa.
Batiam os sinos
Da loucura
E soava inquieto
O coração jovem.
Passaram as ilusões
E as dores passaram.
A princípio lentamente,
Deixando a estação
Vagão por vagão,
De lágrimas,
Outros de mágoas
Alguns de momentos,
Outros de ternura.
Corre agora no ar,
O silêncio do abandono,
Sussurra apenas
A aragem do adeus.
Baixa agora a cancela
Ao nível do chão e,
Na passagem impedida
Espera...
Ouve-se ainda
O coração?
Fechada a estação.
Vem os pássaros morar
Nos seus beirais.
(O velho campanário
Não anuncia mais
Chegadas ou partidas).
Desta linha,
Ramal da vida,
Penúltima parada
Da dor,
Não parte mais
Nenhuma ilusão
A mais.