Poesia

Bitola Estreita

BITOLA ESTREITA

Já faz tempo que partiu
O último comboio
De esperanças
E ao longe
Apitou na curva
Dos anos
Uma derradeira
Saudade.


Esvanece na memória
Espirais de lembranças
Antigas
Crescem nos trilhos
Desolados da vida
Os primeiros ramos
Da sempre-viva.


Houve um tempo
De cores e risos
Movimento intenso
Calor e ruído
De eterna festa.
Batiam os sinos
Da loucura
E soava inquieto
O coração jovem.


Passaram as ilusões
E as dores passaram.
A princípio lentamente,
Deixando a estação
Vagão por vagão,
De lágrimas,
Outros de mágoas
Alguns de momentos,
Outros de ternura.




Corre agora no ar,
O silêncio do abandono,
Sussurra apenas
A aragem do adeus.


Baixa agora a cancela
Ao nível do chão e,
Na passagem impedida
Espera...
Ouve-se ainda
O coração?


Fechada a estação.
Vem os pássaros morar
Nos seus beirais.
(O velho campanário
Não anuncia mais
Chegadas ou partidas).


Desta linha,
Ramal da vida,
Penúltima parada
Da dor,
Não parte mais
Nenhuma ilusão
A mais.


ISA MUSA DE NORONHA ISA MUSA DE NORONHA Autor
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