Poesia

despertar

Acordei não somente deste sono vulgar,
mas também acordei de minha utopia.

Faz um dia terrível hoje,
com sol e pessoas fazendo  
um barulho infernal com sua
[respiração ― tranque-a!
Morram! morram todos!
morra ela; morra eu...

Feche essa porcaria de janela!
Não, não me fará bem;
essa luz me deteriora.

Traga-me um prato de escuridão
e um copo cheio de solidão;
esse será meu desjejum.
Nego a  me alimentar doutra coisa
que não sê fruto de minha angústia.

Acordei, é claro que acordei, caramba!
Por que tenho que me lembrar de que acordei?
Pudera não ter feito.

Tenho que me vestir
(não que me importe).
Tenho que estudar
(não que me dê ânimo).
Tenho que trabalhar
(não que tenha gosto por ele).

Tenho que esperar a Morte
(mas talvez ela não venha);
não se é de admirar que não venha:
baldar seu tempo a visitar pessoas
tão cheias de vida ― gostosas de
gozarem longos anos!

Bate, bate desgraçado coração;
tua função não foi outra senão bater!
Bate, ou melhor, não bata.
Pare! ordeno que pare de bater!
Não para; inútil coração...
Inútil ser sei ser:
não controlar meu coração.

Vamos, acorde! que droga! já estou acordado!

Tenho que seguir em frente; viver.
Se a Morte vir, tanto melhor,
se não vir, paciência;
encaremos a vida.

Ainda que nesse momento eu preferisse
que todo o dia fosse noite,
assim não será;
não será pelo simples fato que esse
não é o ciclo natural das coisas;
respeitemos a Natureza!

Luca Jordão Luca Jordão Autor
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