Poesia

Mariposa

Queria acreditar que as coisas são o que são
sem olhar para elas e dar-lhes outras tantas significações!
Olhar para uma árvore e dizer: é uma árvore;
sem estar a pensar em sua madeira ou celulose;
ou no que é feito com madeira e celulose.

Simplesmente dizer: é uma árvore!
nem linda nem feia;
nem seca nem frondosa;
nem pequena nem grande:
uma árvore!

Caeiro que foi feliz por nada pedir;
por nada indagar.
Foi feliz sem se importar.
― Ou será que se importou?
Se se importou fez questão de não se importar!
Foi feliz por não indagar sua existência inexistente.
Pessoa seu deus.
― Ou terá sido servo?
Deu de ombros, Caeiro!
Mas  foi tão presente quanto qualquer um de nós!

A verdade é que,
enquanto estas palavras, escrevo,
minha mente pensa em outras milhares de palavras para se escrever.
Renitente, domo e as mantenho cárceres,
libertando somente estas que aqui preenchem espaço.

Certa vez, estava eu a pensar numa lagarta;
questão de segundos bastou para transformá-la numa mariposa,
negando assim seu ciclo natural de metamorfose que é de dias,
tornando essa criatura de vida efêmera,
mais vólucre ainda!

A imaginação é uma grande aliada nossa,
mas cuidado ao se aliar a ela,
ela sede tão efêmera quanto minha mariposa:
rapidamente se esvaece!
O segredo é deixar que ela em nós, pouse
e fique ali, dona de si, criando vínculos!

E lá se vai mais uma tentativa minha,fracassada,
de tentar acreditar que as coisas são o que são:
transformei minha imaginação numa mariposa,
que voa, agora, para o título desta poesia!

Luca Jordão Luca Jordão Autor
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