Poesia

2:10 am

I

Nesta noite calada, cansado, acordei.
Sei que é noite
porque meu peito sente esse vazio cheio de dor e de melancolia,
carente de luz; de uma  sombria escuridão.
Escuto um piar de coruja que sobrevoa
anunciando sei lá o quê de simbólico.

Tudo tão calado!
Todos tão cheios!
E eu, tão vazio...
Se ao menos soubesse de qual vazio,
procuraria preenchê-lo.
Mas como não sei, sofro!
E fico deitado em minha cama,
de olhos semiabertos,
olhando a claridade desta noite tão escura...


II

Quero me descobrir,
saber quem eu sou!
Então me levanto da cama, enérgico,
e vou tecendo estas linhas,
buscando encontrar quaisquer pistas a meu respeito:

Ser poeta ― o que é ser poeta?
É saber lidar com as palavras?
Sou um técnico nisso.
Rimo como ninguém;
tenho milhares de rimas em minha mente.
Tenho modelos próprios e amo escrever sonetos
(na verdade, odeio escrevê-los;
escrevo apenas por sua simplicidade de composição,
combinada com os "sentimentos de minhas rimas".

Sou o senhor das palavras,
e elas, minhas míseras escravas!
Mas sou poeta por isto?
Sou é não sou...
e me desagrada dizer que assim sou!
Ainda mais quando afirmo que
ser poeta é tambem saber lidar com as sensações.
De que valia controlá-las?
Para banalizarmos em formas, figuras e símbolos linguísticos?
O que há de verdadeiro nisso?
É poesia, mas não minha,
embora a psicologia diga que sim.
De quem poderá ser?

Deus me perdoe,
mas tenho problemas demais comigo para tentar descobrir!
Então, como todo ser humano sensato,
me inclino à designação comum
de atribuir a Ele próprio minhas poesias!

 
III

Há o enfado que me toma conta,
e, novamente, me deito nesta fria cama...
..."Que quer de mim, o mundo?",
fico pensando com a cabeça vazia e afundada na cama
e o corpo mal posto por de cima das cobertas,
e tudo que penso é "tudo"!
E tudo que respondo sobre quem eu sou é "nada"!

Ninguém sabe a dor que sinto
em  saber que sei o suficiente pra saber o que sinto
e descrever como se não sentisse nada...!

Sou uma rocha,
oca por dentro e,nesse vazio,
existe um coração que sente;
que ama e que sofre por amar demais às pessoas,
mas não consegue, verdadeiramente,
por si só, exprimir!

Luca Jordão Luca Jordão Autor
Envie por e-mail
Denuncie