Para Mônica Almeida
Emerson Araújo
Não há bonés floridos
Nestes campos de injustiça
De homens sem escrúpulos
De calçadas sem mulheres
De cântaros de barro na cabeça
De fita escarlate na cintura.
Esta quinta-feira é de morte
Apesar do meu querido amigo
Não querer levantar as olheiras
Para o arco-íris do quintal
Dor nos gritos do menininho
Durante a longa noite de agonia
De pergaminho branco.
Estas ruas da minha cidadezinha
Já não escondem as melhores anedotas
Nem as velhas cadeiras de balanço
Ao léu
E tudo é passagem na bodega da esquina
No copo americano onde os goles
São de chás de erva e cidreira
Exalando cheiro bom de um dia novo.
Mas o boné cinza na cabeça grisalha
Dá o tom de decência e de palavra boa
E frases enxutas a escorrerem na face dura
Nos arredores dos labirintos
Que a noite oferece generosa
Agora não há açougueiro de vidas humanas
Apenas o ofício de burilar a imagem
Ofício bom do poeta carmesim.