Quando você partiu eu fiz compressas de gelo
Para aliviar a dor da saudade na pele
Você escancarou ao mundo o meu medo de abismo
E o meu choro você viu como um charme
A saudade não é digerível
E o apetite agradável foi meu melhor fingimento
Todo mundo na vizinhança acreditava no meu sorriso
Só não meu travesseiro
Que suportava todos os meus gritos
Eu te doaria meus órgãos
Só pra poder ter minha carne
Viva pulsando dentro de você
A eternidade pouco sabe de nós dois
Também prefiro que ninguém saiba
Mas te expor aqui em versos é a melhor forma de esquecer nós dois
Eu dormia sem cobertas só pra não te ver passando frio
E você sempre acordava sorrindo de um sonho em que eu não pertencia
A dor da saudade corta a gente
E eu estanquei calado o sangramento da agonia
Teu abraço frouxo me desfez em lágrimas
Eu não acreditei quando você saiu de casa
Mas eu suportei a dor do dedo preso na porta
Só pra não te ver partir mais uma vez
Teu cheiro impregnou em todos os objetos
Meu tato tudo aliciava procurando tua pele
Eu engoli a saudade a seco quanto te vi passar
E menti com os lábios trêmulos que já te esqueci
Meu corpo desidratado ninguém mais reconhecia
Perdi meu sobrenome, o apetite, o brilho nos olhos e um tanto de sangue
Eu te escrevi uma carta com um lápis sem ponta
Pra no final você me devolver dizendo que foi engano
Saudade também passa e eu segui com meu colar de alho
Na superstição cabalística que você foi o pior dos meus encostos.