Poesia

Jarro sem uma flor

Jarro sem uma flor

A vida escorre por estas mãos…
Ontem, fui a balança que pesou o oxigênio que corria por tua veias
Enquanto tu tateava o peito contra o chão
Hoje, acredito que o ar que te rasgava lentamente
Enquanto teu corpo inerte, teus olhos inertes, me olhavam a alma
Era o mesmo ar que me rodeia
E que teu pequeno coração pulsava com tanta ferocidade…

Mas como eu, sempre pequeno, sempre gripado, poderia ser Deus?

Nem toda medicina valeria de nada nesse momento… nem que eu fosse o xamãs da mecatrônica
Te salvar não poderia… te salvar não poderia.
Te salvar eu não poderia!…

as hipocrisias homéricas ensaiadas em sala de aula,
textos e texto me gritavam ao ouvido mil e uma manobras
Mas te salvar eu não podia!

então te tocar como eu sabia, inda desde criança, me lembro,
a cada cutucão em teu pequeno corpo, eu te sentia
e se talvez se eu dominasse as rédeas de sua vida por um fio?
Mas eu não sou Deus, não assim!
Não entendo tuas preces,
não escuto os gritos que tuas forças não permitem ser dados
nem compreendo a biofísica obscura de tua alma
o que sei são números, moléculas e chances
Mas este assistencialismo tântrico me deixou vazio
Como o jarro que minha vó, sabiamente, ornamentava a mesa da sala
E exibia aos vizinhos sua beleza e sua inutilidade. O que é um jarro sem uma flor¿

Débora Regina Marques Barbosa 20/02/2014

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