Reescreve , poeta, teus passos
pichando as paredes podres
com as tintas do teu desastre
mas quem disse que era fácil?
Porque ando e nunca chego?
Há um mistério nas léguas
e o que eu sei dos ciganos
são rastros do meu degredo
que mais fogem do que elevam
quando se acaba a lenha
o condor desce das asas
pra reconquistar nas cinzas
o seu destino de águia
vai, poeta, na contramão do rio,
pescar o que resta de sol
as múmias e os hieróglifos
às vezes expõem as vísceras
e trazem a gente no anzol
ainda resta em Damasco
a estrada das conversões
marcha sobre o remorso
e crava as unhas no perdão
vai, poeta, mergulha em teu próprio poço
e fisga o teu coração