Reparem naquela cova
onde um xique-xique floresceu
embaixo estão os meus pais
e embaixo deles estou eu
naquela outra coberta
de flores feito um jardim
ali enterraram uma irmã
que foi arrancada de mim
aquela bem simplesinha
sem visita de ninguém
tinha a minha idade, o Ramalho
com ele eu morri também
já a sepultura lilás
com foto e oração
é de meu primeiro amor
largado em um caixão
visitar os cemitérios
é rever a própria morte
cada defunto a minha cara
cada cara a mesma sorte
assim retalham o meu corpo
numa estranha desova
espalham-me em cada morto
e jogam dentro das covas