Poesia

Dia dos mortos

Reparem naquela cova
onde um xique-xique floresceu
embaixo estão os meus pais
e embaixo deles estou eu

naquela outra coberta
de flores feito um jardim
ali enterraram uma irmã
que foi arrancada de mim

aquela bem simplesinha
sem visita de ninguém
tinha a minha idade, o Ramalho
com ele eu morri também

já a sepultura lilás
com foto e oração
é de meu primeiro amor
largado em um caixão

visitar os cemitérios
é rever a própria morte
cada defunto a minha cara
cada cara a mesma sorte

assim retalham o meu corpo
numa estranha desova
espalham-me em cada morto
e jogam dentro das covas

Pedro L R Pereira Pedro L R Pereira Autor
Envie por e-mail
Denuncie