I
A chuva caia sem pressa, mergulhando o pranto esquecido na rua deserta.
Soldados com seus fuzis
(patrulha noturna, caminhos incertos).
A cidade empilhada, garotos em salto sobre os arranha-céus sombreados.
Existiu um dia aquela cruz, fincada no alto da montanha: anjos dourados a contemplar a deusa pagã.
As armas instruem com seus estrondos.
Marcham contra a criança indefesa.
Espectro da geração perdida.
Os velhos levam seus jornais para casa,
caducos, imperfeitos...
Os muros se erguem em toda esquina
(esperança perdida no esgoto subterrâneo).
II
Adiante, corpos estendidos, anônimos mutilados.
Dinheiro jogado pela ribanceira morna.
Notas vermelhas, olhares em chama.
Ponte imperfeita sobre o lago mortal.
A noite já abraça aos que enterraram seus filhos!
Às cinco horas da tarde, passo a vista ligeira sobre a nação derrotada.
Homens de ferro mastigam o fervor da autoridade em fúria.
Mais adiante, assaltantes ameaçam o rapaz faminto (redemoinhos atônitos).
III
Passo a mão sobre a forma imperfeita
que rompe o silêncio:
Riso sem brio, febre sem fervor...
Então, serenamente, rabisco este canto sobre a calçada de ferro.
Mãos erguidas, rumos sem nexo.
E, ao passo do sol poente, lanço ao horizonte o que não se cala.
A um só tempo, desce a multidão espessa,
ao som de apitos, soluços e trovões de guerra.