O rio da minha infância não foi o Parnaíba
cantado e decantado nos versos do poeta,
‘separando a minha rua
das outras do Maranhão.’
O rio da minha infância foi o Poti,
um rio brincalhão, amistoso,
onde aprendi a nadar com meu pai,
vi pela única vez - em trajes completos -
minha mãe banhando-se feito criança
e acalentei, nas suas areias brancas,
o sonho de ser jogador de futebol.
O rio da minha juventude foi o Capibaribe,
e o Beberibe, que banham e cortam o Recife,
promovem enchentes sucessivas e caudalosas,
provocando tormentas e revoluções.
Bebi das suas águas, caminhei por suas pontes
e aprendi a lição de um povo, que como o rio,
Não se deixa oprimir jamais
pelas estreitas margens
que teimam em o comprimir.
Muitos rios passam pelas nossas vidas.
Rios de todos os janeiros,
rio Piauí, rio Canindé
Riacho do Navio, rio Pajeú,
que despeja no São Francisco
e o rio Amazonas, o maior de todos os rios,
do tamanho do sonho dos homens,
tão forte como a correnteza da história,
tão bravo quanto a bravura dos índios.
Rir o riso dos rios,
cantar o canto das águas –
chuê, chuê, chuá, chuá .
O rio da minha vida segue,
andando ao contrário dos peixes,
para juntar-se a outros rios,
que juntado-se a milhares de rios
por fim haverão de adoçar
a amarga amargura do mar.