Tarde escaldante na Frei Serafim.
Subiu a escadaria aquele homem de sobrancelhas fartas.
Derrubou o jarro de flores. Sentou-se na alcova esquecida do antigo padre e balbuciou pilhérias.
Não é a revolta que move o homem. Nem são os freios que lho estacam o caminhar.
Multidões dispersas marcham em descompasso rumo ao templo.
A cidade abriga o sonho e o tédio: prego esquecido na tábua rasa sem martelo.
Ao longe o rastejar frenético do velho mentecapto. Vencido em seu martírio, traz consigo uma terceira expressão a qual chamaremos milagre:
Muro de credo sem resposta.
Não é a revolta que move o homem. Ainda há fé, mesmo que na descrença.
Olhos vidrados na estátua de mármore.
De joelhos o homem desafia o sermão. A palavra não lhe convence.
Em rejeição expele pelas narinas dilatadas o santo apelo.
Sem castigo, memória ou rescaldo a massa espessa se evapora sobre a calçada de aço.
O velho desce a rampa por entre as árvores.
Vacila em desalinho.
Ajusta o passo e serenamente desaparece na correnteza do tráfego.