Poesia

RENASCIMENTO DO POETA

RENASCIMENTO DO POETA

Renasço neste dia ao céu poento, caduco e inquieto.
Não como fênix desprezando as cinzas, mas como o broto
Rompendo a superfície neutra da carapaça germinal.

Amanheço envolto por alarmes atônitos
Braços Armados. Espadas sem mãos tintilam espasmos, cochichos,
Trovão ensurdecido pelo próprio estrondo.

Não... Não é o mesmo poeta que renasce.
Do limbo ao despertar perdeu-se o que era inútil.
Arvoro-me por vielas sensuais, incompletas, sinalizadas pela aurora em fuga.

Sem desperdício assumo a melodia que me cabe.
No vácuo sigo sem plateia. Desço na estação. Caminho até a ponte.
Repouso a vista sobre o velho monge.
Barrancos de arreia inertes. Vegetação intrusa - nuvens maciças no leito fértil.

Derramo meu canto sem avançar os trilhos.
O maxilar cochilando sobre o joelho curvo.
Atiro uma pedra: (((.))) círculos concêntricos se dispersam sobre a água em ebulição.
Eis enfim um som, mesmo que sem eco.
Submerso, indeciso. Mas não se perde.

Sem aviso - despido de veneração ou espera - escorre até a margem próxima.
Sem pressa acalenta o espanto súbito e, passo a passo, contorna a fios de aço a anatomia definitiva da novel criatura.

Lucas Rodrigues Lucas Rodrigues Autor
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