Poesia

O Teatro do Pódio 

O Teatro do Pódio 

O mundo é o circo dos vencedores.
Nos sonhos desvairados repousa em júbilo o espectro do cavaleiro audaz. 
Ei-lo: o mais forte de todos. Do alto, acena o punho cerrado em nostalgia.
Na ponta do arco-íris um pote de mel à espera do sedento lavrador. 
Foi assim que aprendemos em casa,
Depois da serena oração da avó cantando na rede.
Foi assim que aprendemos a olhar os objetos mais simples
em comemoração à púbere vertigem.
A ciência ainda trafega por corredores tortuosos:
débil fragmento da verdade universal.
Os livros poentos envelhecem nas prateleiras em desalinho.

O mundo é o palco dos viris.
Quem atira a lança é o mesmo que ergue o troféu:
baralho de cartas marcadas a ferro e giz.
Um beijo molhado na testa. Um abraço. Um suspiro de adeus lançado ao vento.
Ver o amigo entregue às feras. Limo espesso sobre a crosta massacrada. 
Quem são os inimigos do povo? Qual a lei que deveras acertará o trote?
Arrepio afoito rompendo o silêncio germinal.
Fibras de carbono deitadas no prato.

O mundo é mesmo a ciranda dos heróis.
Por debaixo do tapete o alimento rejeitado;
Mula animada assombrando a criança em desamparo.
Matilha de cães bravios ladrando a carne estendida ao sol.
A cerveja encorpada desce da jarra e abastece os copos na esquina,
bolhas aladas em fatal metamorfose.

Mas bem ali, por detrás das cortinas vermelhas, ainda que em desespero, alguém teima em atravessar a ponte. 
No viés estreito do enfrentamento, um desconhecido protrai o mecânico destino e se desfaz da viseira ensandecida que lhe dirigia.
Não é o dono do mundo que se liberta.
nem o escravo que derrete os grilhões paralíticos.
De um só golpe arranca as estacas do martírio brutal,
abalando assim as arcaicas estruturas.
Lançada a sorte, o rebelde ratifica o velho ditado:
O mundo é a apoteose dos fortes.
Em um ímpeto inadiável o nosso anônimo destroça os pilares do entendimento em desuso e estabelece, por cima do ódio, o andaime de um novo tempo.

Lucas Rodrigues Lucas Rodrigues Autor
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