Sob o céu de chumbo a dança dos mortais já não encanta.
A sopa fria no prato alimenta o redemoinho de moscas no fim da tarde.
A cidade entranhada aos pés inquietos.
A saliva desce seca arranhando a glote do burocrata.
E o casebre imprensado nos morros não espera mais o vento de outros tempos.
A criança enjeitada abanando a face ante o mormaço da cidade desfalece no berço pálido.
Todo o lixo humano empilhado no quarto sobre a cama.
Dormimos junto a ele. Bebemos o lixo, cheiramos as farpas do inimigo.
A esfera azul gira solta no universo: pupila esmagada pelas usinas em silêncio.
Mas por onde andam as máximas dos justos?
Perderam então o pulo do bonde e espatifaram-se no penhasco?
Derreteram a gotas junto à vela de parafina?
O telefone toca debaixo do travesseiro.
O som dos teclados na sala;
Os amigos que não se tocam há dias, anos.
Estão vivos (mortos) na tela incandescente do computador; Mas...
Não somos miniaturas de bons homens.
A vida lateja no pulsar incessante de cada segundo.
Afinal aprendemos muito mais que a mímica dos arquétipos
Pois somos carne, saliva, poros e amanhã.