Depois da adolescência tornei-me uma pessoa bastante ranzinza, não porque quisesse, mas meu pensamento era diferente dos demais, não conseguia enxergar nenhum resquício de sentido em várias coisas que os humanos costumavam fazer... Por qual motivo as pessoas desejavam parabéns umas as outras em seus aniversários? Elas apenas esperaram mais um ano passar e nunca foi necessário grandes esforços para isso, a palavra parabéns era muito restrita no meu vocabulário, o seu significado sempre veio acompanhado de excelência, abdicação e sofrimento.
Da mesma forma eram as passagens de ano, a última eu passei em casa acompanhado do meu cachorro, e por volta das 23h faltou energia, não me senti triste ou desapontado, tampouco esquecido pelos outros... Era um dia normal, no outro dia acordei normal e tomei o café rotineiro.
Em boa parte do tempo disponível eu estava sozinho pensando sobre sexo, coisas inúteis e a razão de tudo, desejava muito que algum ser superior pudesse observar todo o transito caótico de ideias que circulam na minha mente e me enviasse alguma resposta ou algum sinal, mas depois de alguns anos dolorosos de reflexão concluí que essa pretensão não é possível, embora desesperadora, pra quem era um crente convicto, tal conclusão colocou-me no mesmo patamar que árvores, elefantes e bactérias... De alguma forma aquilo me trouxe paz, não conseguia admitir a ideia de que o universo era criado para os homens e que todo o resto era mera criatividade desnecessária.
