Poesia

Restos a pagar

Terei restos a pagar [ nesse exercício]
restos de sonhos, sono indigesto
um rosto gasto, um peito exausto,
a dor da angústia e uma fé sem lastro
indo a confisco

fiz aplicações de alto risco [na bolsa dos valores]
comprei na baixa ações dos sindicatos, dos movimentos
dos camaradas, da lealdade, das madressilvas,
da bondade dos orfanatos, da força da poesia
da ideologia dos fracos
todas elas despencaram e eu me fiz insolvente

não tenho sobras de caixa [mas continuo em campanha]
só me sobraram as mãos, um nome, os arranhões
o troco do desengano, um vazio em cada bolso
e um vasto coração

deixarei rastros a apagar [não nos bufês]
lá no mercado do mafuá
onde só tenho haver


Pedro L R Pereira Pedro L R Pereira Autor
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