Aqui nesse quarto desarrumado
Meu covil
Meu porto seguro
Remoendo esse café amargo
Tentando ler nas borras deixadas no fundo da xícara meu evidente futuro
Inalando a fumaça do meu último cigarro
Sobram-me as cinzas, sobram-me as borras
Sobra-me sua lembrança
Recebi ainda há pouco uma ligação sua
Seria a única a confortar meu espírito esta noite
Mas sem dúvidas será a causa de minha insônia
Quisera não ter atendido
Sua voz me deu ânsias de vômito
Antes era meu mantra, agora; meu exorcismo
Instigou os demônios que repousam em mim
Poderia os ter deixado adormecidos
Mas definitivamente você não aprendeu quando calar:
Calar sua boca
Calar seu egoísmo
Calar sua infantilidade fingida
Calar meus beijos
O cigarro ao fim queima meus dedos
Mas a dor nada se compara à sentida quando lembro suas palavras
Ouço uma moça que canta “someone like you”
Mas querer outra pessoa como você é ser masoquista
Não temo a dor, mas tê-la com seus olhos, fere-me a pele
Feridas que não curam jamais
Você conhece meu ponto fraco
E logo eu que sempre fui o mestre descobridor de fraquezas
Permiti que a serpente inoculasse esse doce veneno
E copulássemos em noites frias de lua cheia.
Maldita abstinência de você!
Não consigo dizer um simples não
Aos seus olhos claros que enfeitiçam
Ainda que eu tivesse um harém
Correria até campos distantes só para sentir esse perfume
Meus livros de magia
Meus poetas preferidos
Meu analista
Nada. Nada tira sua presença de mim
Mas é preciso resistir a este vício
Quantos precisam ainda morrer por sua causa?
O amor não precisa ser este campo de batalha
Sangrando corações antes fortes
Quebrando promessas seladas
Dando preço às almas.
Correria até campos distantes só para sentir esse perfume de rosa
Ainda que eu tivesse um harém
Meus olhos só se enamorariam aos seus olhos claros que enfeitiçam
Não consigo dizer um simples não, maldita bruxa!
Maldita abstinência de você!