Por mais que haja crises
e dores terríveis, e choros dos filhos
e amores doídos e sonhos partidos
as mães não se abalam, a mão sempre embala
a rede protege, o colo restaura, a dor dorme e cala
e as mães são felizes
Por mais que haja avisos
em todos os quartos, em todo lixeiro,
e indícios de dolo por trás do banheiro,
na ausência, nas fugas, nos olhos vermelhos
na mancha dos braços, na fúria da voz
o peito harmoniza o que só desconfia
e agasalha o perigo desnudo na rua
a língua salga, abençoa e salva lambendo a sua cria
e as mães são (para sempre) felizes
As mães são felizes
porque são raízes da nossa floresta
se vergam, se rendem, mas nunca se perdem
ignoram o perigo e creem em mentiras
fazendo de conta de forma sincera,
sabendo de cor que afinal de contas
o balanço do amor não lê prejuízo
Ao contrário dos poetas
as mães amam tão sinceramente
que fingem não ver a dor
e assim não traem o que sentem
As mães são felizes
e isso já basta
para que explicar
uma glória tão vasta?