Poesia

O amor, as lágrimas e o místico

Imagine você se a alma só dança uma dança. Confesso que também fiquei confuso, não sabia se era possível uma alma cometer enganos. Lembro de dois jovens casais cada qual com suas completudes – agora a completude se deixa confundir com vontade; a completude é uma escada sem início e sem fim... só pode ser desperta... é o desejo de ser feliz, pois que já é a própria felicidade; a vontade não é nem o querer e nem o desejo... é uma dança de anunciação que anuncia para a alma que é chegada a hora de partir. Eis a questão: anunciar a hora de partir não é garantia de chegada. Os dois jovens casais dançavam uma dança engraçada, dançavam como que de olhos fechados uns para os outros, suas almas não rimavam mais, a saudade não estava mais presente – lembre-se de uma coisa importante: “a saudade não abandona ninguém” –, a saudade conhece as almas. Ela sabe onde deve estar.
Lembra-se do desejo – o passeio da alma pelo encantamento, a busca saudosa daquele não se sabe o quê – ele é o maestro da dança das almas, sem ele não há viagem poética, sem o desejo as nossas almas nunca encontram o inexistente. As almas namoram com o encantamento, uma alma que encanta a outra é uma alma saudosa, é uma alma cheia de sonhos, uma alma que chora quando sente que a outra alma sofre. Posso lhe perguntar uma coisa? Você ainda não estranhou a ausência de alguma coisa na dança das almas? Será que não se fala em amor, paixão, desilusão...? Escuta bem: “na dança das almas o amor – aproximação saudosa da alma rumo ao abraço animático dos sonhos, abraço de almas que transcenderam as rimas e todas as poesias, encantamento cadenciado nas batidas do coração de quem se ama... – é uma saudade diferente de todas as outras, é uma saudade sonhosa, é uma saudade sonhada em lágrimas de poesia, em lágrimas minhas, em lágrimas suas, em lágrimas nossas, em nossas lágrimas – as lágrimas são gotas místicas carregadas de desejo que são derramadas no ritmo da dança de nossas almas.
Quando se ama alguém é comum lembrar-se de alguma coisa e começar a sorrir – o sorriso saudoso são as lágrimas místicas do coração oriundas do desejo, filhas do encantamento e com pedaços de saudade. Amar é mistério, é surpresa, é abraçar o inexistente (desejo), é contar segredos, falar baixinho próximo do ouvido e sussurrando para a alma, é querer abraçar alguém que está próximo e ao mesmo tempo distante. As almas sentem necessidade de amar. Na dança das almas não somos coadjuvantes, na dança das almas – processo de apaixonamento animático repousado nas essências hedonísticas do desejo – a saudades e une à recordação – na dança das almas recordar não é um lembrar comum, é sonhar toda uma vida que ainda não se viveu, é navegar lado a lado com o encantamento no caminho sonhoso das puras possibilidades.
A dança das almas é mistério – o mistério não é nada misterioso, desculpem a redundância, mas o mistério é apenas a forma carinhosa que a saudade encontrou para chamar o inexistente; o inexistente é apenas aquilo que a alma precisa encontrar. Deixe sua alma sonhar, deixe-se amar e também ame, não deixe de dançar a dança das almas, não se deixe acorrentar pela imensidão das incertezas. Enquanto estamos aqui conversando uma alma está a procura da sua, quem sabe já encontrou a sua e está apenas esperando que você se deixe amar. Feche os olhos e sorria o sorriso saudoso, sorria as lágrimas místicas do coração, sorria as lágrimas oriundas do desejo, sorria as lágrimas filhas do encantamento e sorria as lágrimas com pedaços de saudade. Não se preocupe comigo. Eu não estou sozinho, minha alma já está a dançar, já está próxima do abraço animático dos sonhos. Já encontrou sua alma metade. Agora só falta ela se deixar encantar.

Gabriel Ferreira Gabriel Ferreira Autor
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