Poesia

Desaparecidos


E se eu volto e te encontro?
E se apenas dormi no ponto?
Voltamos ao mesmo ponto
sem ter um ponto final?
Ou o conto chegou ao fim?
Já houve um final sem mim
sou um vivo que já morri
defunto sem funeral?
E se o filho que não conheço
já possui um novo pai?
Simplesmente apareço
-oba, olá, como vai –
e novamente o esqueço
como se fosse um intruso?
E se os amigos estranharem
e os companheiros fugirem
e os parentes negarem
e os vizinhos fingirem
pra onde é mesmo que eu fujo?
E se a lembrança insistir
em torturar novamente
como encarar de frente
a beleza de sorrir?
E se eu virar um zumbi
quem irá pagar a conta
de tudo o que já sofri?
O pau de arara da alma
é cicatriz que não fecha.
Nenhuma pomada acalma
se a ferida vira tétano.
E se eu volto e te encontro
será que ainda dá tempo?
Ou será que o tempo esquece
e abandona ao relento
o amor que desaparece?
Melhor que eu fure esse ponto
e desapareça para sempre
sem entregar nosso encontro
nem delatar nosso bem

Pedro L R Pereira Pedro L R Pereira Autor
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