Meu bondoso beato Celestino
Que da reza vive a sério,
Pai de “Mané Quitério”
Diga logo o meu destino
Pois conheço o seu critério,
“Nas hora” de desatino...
Diga – me se duro mais anos,
Ou se este é o derradeiro
E se a sete palmos no terreiro,
Serei enterrado aos prantos.
Fale logo meu roteiro:
Se me encosto à viola ou canto?!
Casto homem peregrino,
Da aréola reluzente
Que me viu desde menino,
Homem santo e eloquente,
Não me faças chorar!
Só me torne penitente,
Antes logo d’eu embarcar...
Num caminho mais latente
Ei de caminhar banzo
Com a viola na parede,
Que, ao emudecer meu canto
Acompanhará outro verso,
E sem permissão do Santo,
Fará acordes controversos.
Mas meu “Santinho Beato”,
Um novo verso escreverei,
A pedir perdão pelo ato,
De não cantar o que cantarei!
E ainda que da vida à morte,
Se me sobre diminuta sorte,
Pessoalmente o farei...
Não me leve neste instante,
Ó do manto cor de anil!
Este ano é importante!
Não me leves por engano,
Pois neste próximo abril,
Eu completo mais um ano!
E embora à beira – morte,
Sei da fé que tens em mim.
E se ao fio da vida não vier o “corte”
E da tua boca ouvir o sim!
Celebrarei todos os anos
Que não tirarás de mim...
Mas sacratíssimo Beato,
Sinto meu peito doer!
Uma mazela a consumir.
Pai! Tenho medo de morrer.
Não sei mais o que fazer!
Não sei mais como agir!
Tire – me esta angústia impregnada,
Esta cólera que me esperta o sono,
Esta dor de minha mão chagada.
Tire – me a vida, agora!
Pois sei que já estou pronto,
Pra desta “lida” ir embora!
Meu “Santinho Estático”
És mera imagem num quadrante,
E o seu milagre fantástico?!
Não me curou um edema,
E ainda tenho enfisema,
Mesmo não sendo fumante.
Não dá pra esperar!
Necessito d’uma cura!
Pois já me falta o ar,
Já me faltam as forças
E mesmo com alma pura
Acho que... Não dá pra continuar!
Atentarei contra minha vida
Encerarei com este tormento,
Antecipando minha partida,
Induzido uma hemorragia
Que me dará a garantia
Do fim deste sofrimento...
