Vejo o abandono no olhar de uma criança,
Que sai pela rua catando lata,
Esquecendo que tem no coração uma infância
E que chega em casa pra comer não tem nada.
Essa mesma criança vai dormir com fome,
Junto com o cobertor que forra o chão,
O choro que de perto não some,
É o choro do seu outro irmão.
Chega a madrugada que o frio não passa,
Pois o teto e as paredes do barraco são feitos de papelão,
Na barriga a fome que ainda maltrata
E tendo que dividir com os ratos o mesmo chão.
Mais um amanhã com a noite vai sumindo,
Os seus pais com efeito do álcool ainda dormindo,
seu irmão no chão molhado continua em cuido
E a fome na barriga novamente surgindo.
Ele já não tem mais nenhuma esperança,
Pois já sabe que muitas outras noites irão chegar,
Porém continua no olhar o abandono de uma criança
E sua escolha é o frio e a fome de todas as madrugadas esperar.