Poesia

SUNGLASSES




Quem sofre usa óculos escuros...

Outro dia no terminal rodoviário
Meu destino era nunca mais voltar
Cheguei ao limite das tentativas
Tantas expectativas em vão

Como antes todos meus sonhos
Seguiram para o norte
Eu fiquei cá um pouco a descansar

Quase vinte anos se passaram
E eu não compreendi ainda
Para onde foi todo o tempo
Eu só cochilei por instantes e eles se foram

Amores da juventude
As possibilidades prováveis
A idade que passa rápido depois dos quinze
Experiência das irresponsabilidades

No espelho da minha casa
Nas vitrines das lojas na rua
Na retina de todos que passam

Minha alma febril se embala
Na baladeira dos dias
Delirante aos sonetos
De ufanas paixões

Foi uma mocinha de laço no cabelo
E vestida de inocência
Que me advertiu outro dia:
Moço tire os óculos está chovendo!

Ah! Se tu soubesses que eles
São a marca indelével da minha dor
E que prefiro a dor das lembranças
A dor da inexistência das mesmas

Quem sofre usa óculos escuros...

Todos os reflexos me dizem
Onde eu errei
Como poderia ser diferente

Enquanto minha casca cisma
No monólogo sem fim
De um existir sobrevivendo

Eu não nasci na época errada
O que eu fiz foi amar
E a quem não devia
E a confiar no que não existia

Na hipnose de um olhar
Que como ouro de tolo
Cegava-me e iludia

As mentiras que conto para eu próprio
Apenas para ocultar a realidade
Mas lá no fundo como péssimo
Mentiroso que sou eu sei

Quem sofre usa óculos escuros...


Rey Mendes Rey Mendes Autor
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