Frente aos nichos 
As vitrines de Amsterdã 
Cá do lado de fora no meio fio 
Da rua do inferno 
O sol escaldante 
Fundiu todas as máscaras 
No tecido conjuntivo das mentiras 
O pus das úlceras selou as ataduras entre 
O mármore e as faces 
Meu medo mórbido dos manequins 
Que insisto em saudar matutinalmente 
Mais por susto que por obrigação 
E me deparando com meu equivoco 
Fico a fitá-los nos olhos em comparação 
Com a normalidade esquisita dos humanos que passam 
Quem algum dia ao visitar os templos 
Do capitalismo dirá que nunca saudou 
Por descuido com um “bom dia” 
As imagens humanas bem vestidas nas lojas? 
Aquele grupo de moças aponta para dentro 
Invejam a inércia nas curvas perfeitas 
Dos bonecos de plástico 
Ninfetas de vermelho 
A desmantelar famílias 
Trottoir pelo bulevar 
Auto-educandário das esquinas 
Labirinto das falsas conveniências 
Há gerações a engolir 
O pouco de humanidade existente 
Na frigidez dessa rua 
                           (São do Piaui, Junho de 2011)