Antes havia alguém que dizia eu ser inteligente
Por me interessar pelo mundo nos papéis empoeirados
Hoje nem isso faço mais tenho preguiça
Preguiça essa que vem do enfado ou medo
De viver além do que sei que é certo
Ah! Minhas mentiras
Tão humanas como outras qualquer
Perdi a capacidade de viver
Para os outros é o que digo
É o que sempre digo agora
Minha inteligência sempre foi à vontade
De continuar existindo como eu
E não a maneira quimerista das almas
Que tocam possibilidades infinitas e ufanas
A ordem templária da minha imagem pagã
No espelho trincado do meu quarto
Os segredos das encruzilhadas da vida
Sinto calafrios de suas lembranças
Que sufoquei em meu travesseiro
Outro dia o pregador de verdades
Veio a minha porta à tardinha
Ele parecia comigo em outra vida
A que eu tinha antes do mundo ruir
Ele tinha tanto de mim
Que cheguei a perguntar-me
Como consegui chegar a ser eu agora
Sem grandes sonhos
Ou rompantes de altivez
Mas agraciado por não ter expectativas
Sem muito dinheiro
Mas sem o cuidado ruidoso e enfadonho
De todos os que o tem em demasia
Sem amores que me acompanhariam
Desde minha mocidade
Que mentira poderia aplacar isso?
É tão desgastante ser racional
Felizes dos que sonham
Na ignorância da vida
Que passam a vida acreditando
Na racionalidade conveniente e
Utópica que lhes impuseram
Não! Você não sabe quem eu sou!
Isso eu guardei para meus iguais
A mulher com alma menina
Com olhos tempestuosos de um dragão
Que sabe a dor dos cristais
Que se formam abaixo de sua pele