Aí ela nos abandona
por se sentir desprezada
-tipo um saco de pancada -
em meio a tanta impostura
fugindo de tanta pressa
correndo da amargura
Como cadela sem dona
vai procurando pousada
nas calçadas da ternura
ou nos braços da madrugada
quedando-se submersa
ali, esquecida e sonsa
Até que encontre morada
num peito, que em vez de força
arfando musculatura,
seja abrigo da procura,
o descanso da tortura,
a arena dos namorados
Aí ela volta e pousa
meio pegando carona
meio pedindo desculpas
galopando na garupa
das veias do coração
E sai levantando a lona
apagando as velhas culpas
escritas na mesma lousa
com outros bastões de giz
E chega fazendo coisas
e chega bancando o show
e brilha de tão alegre
e ferve de tanta febre
e derrama por entre as mãos
e haja a fazer borrão
e corre à frente dos pés
e dana-se a fazer gol
e geme como os fiéis
e goza como os pagãos
e explode de tão feliz.
Eis a santa inspiração