Nasci um grão de Pedro
pedrei e sobrevivo
com crostas de cicatrizes
nas costas do desengano
Plantei sedentas raízes
-afoitas, subversivas -
no soalho dos paisanos
Em meio a um deserto ingrato
vou colhendo desafetos
no fim de cada salário
Carrego dentro do fato
os abortos dos meus fetos
que chocaram o orgulho
do meu peito funcionário
E assim vou quebrando pedras
enquanto apuro o meu faro
pra ver se encontro um poeta
debaixo do pedregulho